Há exatos 7 anos, a dra. Winnie teve a brilhante ideia: criar um blog para que juntos, eu, ela e a Angeline pudéssemos compartilhar com outras pessoas as nossas observações, anotações e considerações, principalmente sobre música e literatura. Hoje, chegamos ao comentário de número 367 — um por semana.

Todas as nossas publicações são cuidadosamente pesquisadas em fontes seguras. O nosso interesse é transmitir informações aos nossos leitores sobre discografia, biografias, versos e prosas. Então, onde quer que o assunto esteja disponível, lá estaremos nós verificando se corresponde ao perfil dos nossos seguidores.

Entre os quase 370 artigos, escolhemos um para reeditá-lo. Quando da sua veiculação aqui, há 5 anos foi um dos mais lidos. Alguns leitores nos pediram que devíamos massificá-lo, sempre. Trata-se do poema “Desabafo”, de autoria do brilhante poeta amazonense Farias de Carvalho, retiradodo livro Mudanças e contextos — de Jesus Cristo a Bill Gates (ver imagem). Repleto de palavras reflexivas.

“Hoje eu queria escrever um poema diferente,
sem o chique das formas elegantes e a rotina das
velhas tradições (…) um poema duro, pegajoso,
como os músculos e o suor dos que constroem os
séculos e carregam todo o peso do mundo sobre os ombros (…) plantar nele um jardim de cores
tristes, onde rebentem como camélias pálidas as
caras magras das crianças sujas, que andam
estendendo as mãos pelas esquinas (…) depois,
borrá-lo com o vermelho vivo do sangue odiento
dos que vivem como cães abandonados, vomitando os pulmões pelas sarjetas (…) crucificar Jesus mais uma vez, para acordar o
grande sacrificio no coração dos homens que
esqueceram (…) zurzir, não sei quantas mil vezes,
a consciência feudal dos potentados, que hão de
ler, por certo, com desprezo, durante a sesta,
depois da bóia gorda, onde engolem (…) a vida
triste dos que empurram o mundo (…) e depois de
toda uma existência, de sangue, suor, pranto e
escravidão, viram chocalhos de ossos e terminam
de mãos magras estendidas a pedir pão. Quero
montar meu poema como um louco e sair
galopando mundo afora (…) beijando a mão
ressequida do camponês que anda enchendo a
terra de sementes, de dor e de esperanças (…)
cantar o heroismo anônimo e gigante das
mulheres que nunca foram santas, e andam
parindo nas estrebarias, pobres crianças que
ninguém adora porque já nasceram
implacavelmente pregadas à cruz de sacrificios
infindáveis, lembrando, em seu destino trágico e
sem luz, o heróico sacrificio de Jesus. Quero
escrever um poema diferente. Para escutá-lo (…)
basta jogar o ouvido pelo mundo, e ouvir meu
poema repetido (…) no lamento das negras chaminés, no roncar dos estômagos vazios (…) e
senti-lo, mais vivo e cortante, na voz daquela
operária buchuda, que está enganando o menino
de olhos fundos: dorme, filhinho, dorme, teu pai
vai trazer pão’….. hoje eu queria escrever um
poema diferente…” (1).

Sem comentários. Cada um de nós tira as suas próprias conclusões. Assim, seguirá cada vez mais autêntico o Facetas. Porque, segundo os Titãs “Quando não houver caminho/ mesmo sem amor, sem direção/ a sós ninguém está sozinho/ é caminhando que se faz o caminho”.

Nós também, não estamos sozinhos. Contamos com a valiosa participação de cada seguidor(a). Para que a nossa modesta equipe possa continuar — semanalmente — produzindo artigos e contribuindo para a perpetuação das artes, da cultura, enfim.

Notinha útil – a nossa homenagem pela passagem dos sete anos do Facetas vai para a pequena Maria Clara dos Anjos Siqueira, de nove anos de idade. Ela é estudante e, segundo seus pais, quer saber do que trata cada artigo que chega ao seu conhecimento. Parabéns a toda família e que continuem nos prestigiando.

Gomes, Angel e Winnie

Fonte

1. De’Carli, Júnior. Mudanças e contextos — de Jesus Cristo a Bill Gates. Manaus: Editora Grafisa, 2005, pp. 49/50.