“Mensagem” é uma obra poética publicada por Fernando Pessoa em 1934, pouco antes de sua morte, e a única que o autor lançou em português em vida. Trata-se de um livro breve, mas densamente simbólico, onde o poeta convoca o passado glorioso de Portugal não como saudade, mas como profecia. É uma exaltação do espírito nacional, entrelaçada com mitos, figuras históricas e esperanças messiânicas.

A obra está dividida em três partes:
- Brasão – apresenta os grandes símbolos do passado português, como os reis e navegadores.
- Mar Português – celebra os feitos marítimos e o espírito de sacrifício que os tornou possíveis.
- O Encoberto – mergulha na espera messiânica de D. Sebastião, o rei desaparecido que, segundo o mito, retornará para salvar Portugal.
Selecionamos 3 poemas para vocês:
II
OS CASTELOS
PRIMEIRO
ULISSES
O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo —
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.
Este, que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.
Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecundá-la decorre.
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre.
QUINTA
D. SEBASTIÃO REI DE PORTUGAL
Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.
Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?
VI
OS COLOMBOS
Outros haverão de ter
O que houvermos de perder.
Outros poderão achar
O que, no nosso encontrar,
Foi achado, ou não achado,
Segundo o destino dado.
Mas o que a eles não toca
É a Magia que evoca
O Longe e faz dele história.
E por isso a sua glória
É justa auréola dada
Por uma luz emprestada.
Dividida em três partes — “Brasão”, “Mar Português” e “O Encoberto” — a obra caminha desde a evocação dos heróis fundadores da pátria, atravessa a epopeia dos Descobrimentos, e desemboca numa expectativa de renascimento espiritual. Pessoa articula a história como um palco mítico, onde o real e o lendário se fundem. O mito de D. Sebastião, por exemplo, aparece como símbolo de uma salvação futura, de um “Quinto Império” — não político, mas espiritual e universal.
“Mensagem” é, ao mesmo tempo, um cântico à identidade portuguesa e um manifesto metafísico. O passado não é visto como fim, mas como semente: cada lenda é uma chama acesa para a transformação do presente. A obra mistura razão e mistério, política e transcendência, história e sonho — tudo com uma linguagem lapidada, simbólica e intensa.
Winnie, Gomes e Angel