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No dia 07 de agosto de 2015, há exatos 04 anos, nascia o Facetas Culturais por iniciativa da minha filha Winnie Gomes, a qual divide comigo a assinatura dos artigos semanais. Segundo ela, tínhamos muitos relatos escritos (já pesquisados) nas áreas da música, da literatura e de biografias que deveriam ser publicados, isto é, compartilhados com outras pessoas que gostam desses gêneros.
Assim o fizemos. Com a publicação de hoje atingimos 212 edições em 212 semanas, com 212 mil acessos. Um resultado para lá de positivo, gigantesco, principalmente para nós, que não somos escritores ou jornalistas. Mas, simplesmente pessoas que gostam da pesquisa, da literatura, da informação e da formação das outras pessoas.
Os temas abordados podem até ser simples, mas são originais, autênticos; advindos de fontes confiáveis, seguras. Não produzimos nada sem antes ser consultada a procedência do fato, do ocorrido, dos dados levantados. O que não é de nossa autoria, logo, vem identificado o autor da obra, do texto, da frase, das palavras. Sempre entre aspas.
Todos os 212 comentários, artigos ou crônicas – cada um no seu contexto histórico, geográfico, cultural, social, biográfico, discográfico, etc -, representam , para o blog, uma conquista, uma vitória. Faríamos todos outra vez. Porém, um, Que País é Este?, publicado em 31 de outubro de 2015, com trechos do poema A Implosão da Mentira, será agora complementado, ou seja, apresentado na íntegra, pela necessidade de seus versos (“explosivo-conotativo”), sobre a triste realidade que o Brasil enfrenta na escassez de ética, de moral, de honestidade, de verdade, etc, etc, etc.
O mencionado poema é de autoria do brilhante poeta mineiro, Affonso Romano de Sant’Anna (82 anos), publicado pela 1ª vez em 1984, cujo conteúdo está dividido em cinco fragmentos. Vamos ao mesmo:
A IMPLOSÃO DA MENTIRA
Fragmento 1
Mentiram-me. Mentiram-me ontem
e hoje mentem novamente. Mentem
de corpo e alma, completamente.
E mentem de maneira tão pungente
que acho que mentem sinceramente.
Mentem, sobretudo, impune/mente.
Não mentem tristes. Alegre/mente
mentem. Mentem tão racional/mente
que acham que mentindo história afora
vão enganar a morte eterna/mente.
Mentem. Mentem e calam. Mas suas frases
falam. E desfilam de tal modo nuas
que mesmo um cego pode ver
a verdade em trapos pelas ruas.
Sei que a verdade é difícil
e para alguns é cara e escura.
Mas não se chega à verdade
pela mentira, nem à democracia
pela ditadura.
Fragmento 2
Evidente/mente a crer
nos que me mentem
uma flor nasceu em Hiroshima
e em Auschwitz havia um circo
permanente.
Mentem. Mentem caricatural-
mente.
Mentem como a careca
mente ao pente,
mentem como a dentadura
mente ao dente,
mentem como a carroça
à besta em frente,
mentem como a doença
ao doente,
mentem clara/mente
como o espelho transparente.
Mentem deslavadamente,
como nenhuma lavadeira mente
ao ver a nódoa sobre o linho. Mentem
com a cara limpa e nas mãos
o sangue quente. Mentem
ardente/mente como um doente
em seus instantes de febre. Mentem
fabulosa/mente como o caçador que quer passar
gato por lebre. E nessa trilha de mentiras
a caça é que caça o caçador
com a armadilha.
E assim cada qual
mente industrial/mente,
partidária/mente,
mente incivilmente,
mente tropical/mente,
mente hereditária/mente,
mente, mente, mente.
E de tanto mentir tão brava/mente
constroem um país
de mentira
diária/mente.
Fragmento 3
Mentem no passado. E no presente
passam a mentira a limpo. E no futuro
mentem novamente.
Mentem fazendo o sol girar
em torno à terra medieval/mente.
Por isto, desta vez, não é Galileu
quem mente,
mas o tribunal que o julga
herege/mente.
Mentem como se Colombo partindo
do Ocidente para o Oriente
pudesse descobrir de mentira
um continente.
Mentem desde Cabral, em calmaria,
viajando pelo avesso, iludindo a corrente
em curso, transformando a história do país
num acidente de percurso.
Fragmento 4
Tanta mentira assim industriada
me faz partir para o deserto
penitente/mente, ou me exilar
em Mozart musical/mente em harpas
e oboés, como um solista vegetal
que absorve a vida indiferente.
Penso nos animais que nunca mentem,
mesmo se têm um caçador à sua frente.
Penso nos pássaros
cuja verdade do canto nos toca
matinalmente.
Penso nas flores
cuja verdade das cores escorre no mel
silvestremente.
Penso no sol que morre diariamente
jorrando luz, embora
tenha a noite pela frente.
Fragmento 5
Página branca onde escrevo. Único espaço
de verdade que me resta. Onde transcrevo
o arroubo, a esperança, e onde tarde
ou cedo deposito meu espanto e medo.
Para tanta mentira só mesmo um poema
explosivo-conotativo
onde o advérbio e o adjetivo não mentem
ao substantivo
e a rima rebenta a frase
numa explosão da verdade.
E a mentira repulsiva
se não explode pra fora
pra dentro explode
implosiva (1).
Assim, à procura da verdade, tem sido todo o nosso esforço e a nossa dedicação, cujo resultado destinamos aos nossos leitores (se fosse possível citaríamos aqui, o nome de cada um). Agradecemos por cada acesso, por cada leitura, por cada opinião manifestada – pessoal ou virtualmente. Todo esse conjunto de fatores positivos, fará com que continuemos com as nossas facetas semanais.
Winnie Gomes
Francisco Gomes
Fontes
1. jornalggn.com.br
2. Poema publicado no JB em 1984. Está em “Poesia Reunida” – L&PM, 1999, v.2.
3. Imagem: Pixabay
3. Imagem: Pixabay
Excelente amigo Gomes!
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Bravo, bravo!
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