Em abril de 1990, quando a cidade de Brasília completou 30 anos de sua fundação, o Banco do Brasil lançou um álbum duplo (2 LPs): “Brasília – ano 30: Uma antologia musical“. Por sinal, um excelente trabalho em prol da cultural da música brasileira.
Na contracapa, Márcio Cotrim, da gravadora Plural, escreve: “Trinta anos depois do dia em que se concluiu a epopeia de sua construção, eis Brasília em suas mãos, trazida em música” (2).
“Tudo começou com a certeza de que havia muita boa música no ar. Muita e boa música feita por gente que vive aqui, que mal passou por aqui e até por quem nasceu aqui” (2).
Segundo o poeta mineiro Affonso Romano de Sant’Anna (82 anos), “fazer 30 anos não é simplesmente, como num jogo de amarelinha, pular da casa dos 29 para os 30, saltitantemente; fazer 30 anos é como sair do espaço e penetrar no tempo. E penetrar no tempo é mister de grande responsabilidade” (2).
Naquele ano de 1990, com “grande responsabilidade” musical já era febre nacional o rock tocado por bandas de Brasília, como Plebe Rude (1981), Legião Urbana (1982), Capital Inicial (1982), entre outras. Sem, no entanto, desprezar outros gêneros como o Pop, o Samba, o Choro e a própria MPB.
Por falar em Choro, da Capital Federal, também, vem o mais belo chorinho executado no país. O do Clube do Choro de Brasília. Por estas e outras análises, o leitor tem a nítida convicção que aquela cidade, como: Rio de Janeiro, São Paulo, Porto alegre, Salvador, Belém, Recife, etc, é propagadora de notados movimentos musicais. Brasília não se resume apenas nos projetos arquitetônicos de Oscar Niemeyer (1907-2012), do paisagismo de Lúcio Costa (1902-1998), ou ser o centro administrativo dos Três Poderes. Brasília tem sim música de qualidade para todos os gêneros, gostos e públicos.
Agora que a cidade já se movimenta para completar 60 anos, o cenário musical continua ótimo por lá. Comete ledo engano que acha que as noites brasilienses são vazias com lugares de divertimento desertos, sem opção para os frequentadores. Há grupos novos, novas músicas no ar.
Nesta semana, nós do Facetas, recebemos aqui em Manaus (AM), dos integrantes da Banda Guardavento, direto do DF, Apesar de Tudo, o 1º CD do Grupo, lançado em agosto deste ano. Com selo da Global Mídia Digital é produzido por André Zinelli e Diego Poloni.

Seus integrantes são Anderson Freitas (guitarra e teclado), Naiça Mel (vocal), Lídia Moreira (teclados), Yan Britto (bateria) e Humberto Florim (baixo). O disco contém 10 músicas: Atrás do meu sorriso, Bistrô, Copacabana, Casa dos relógios, Quinta chuvosa, Árvore do quintal, Espantalho de prédio, Momentum, Pequena e Tocaia. Todas as composições são de autoria de Humberto Florim e Anderson Freitas (1). Humberto (baixista e compositor) explicou para nós sobre a origem do nome da banda:
“Guardavento é uma palavra mais utilizada em Portugal. Refere-se a um anteparo de madeira ou metal que fica na entrada de uma igreja ou prédio comercial, uma espécie de caixa ou local intermediário fechado por 2 portas. Serve para proteger o recinto interno de ventanias ou chuvas. Em analogia utilizamos esse local como um estado de espirito entre o caos/barulho das ruas e o silêncio do recinto interno, um estado de reflexão entre o ruído da vida externa e o silêncio interno da consciência”.
O trabalho é muito bem produzido e agradável de ser percebido. Melodias gostosas de serem ouvidas em poemas e versos fascinantes. Curiosamente todas as letras estão compostas na primeira pessoa do singular, com exceção de Copacabana. Logicamente que se trata do EU LÍRICO, onde temas como “angústia, solidão e melancolia” (2) são abordados. Há muito tempo não víamos, líamos ou ouvíamos trabalho assim. Geralmente tudo gira em torno do “nós”.
Guardavento é uma banda independente, formada a partir de 2017. Mas, o trabalho artístico iniciou antes, com o encontro entre Humberto e Anderson. Humberto disse que
“A banda surgiu do encontro entre Humberto e Anderson para trabalhar em alguns arranjos musicais e letras perdidas no tempo que foram sendo refinadas e lapidadas entre 2015 e 2016. Em 2017 conhecemos a Naiça que colaborou com as cores emocionais e a suavidade de sua voz para a interpretação das histórias contadas em cada faixa do álbum. Iniciamos a produção do disco no estúdio através de um processo de desconstrução utilizando-se de um programa digital para experimentarmos diferentes tipos de timbres e possibilidades. Desta forma camadas foram sendo criadas de dentro par fora até atingirem a ambiência que estávamos dispostos a ousar. Os integrantes Lídia e Thiago ingressaram no projeto já na fase de ensaios”.
O CD foi lançado em agosto de 2019. No mês passado (setembro), o clipe Copacabana. “Nas suas influências estão a MPB, a World music e o Pop e fica claro que o grupo sabe pegar tudo isso e transformar em algo que tem a sua cara” (3), ou seja, a “sonoridade brasileiro-urbana e contemporânea” (4). Essa banda estreia muito bem e promete excelentes sucessos, agora e vindouros.
Constata-se o quanto são abstratas as fotos da capa/contracapa e do encarte, produzidas por Lucas. São pedras sobre pedras, artisticamente para conter a passagem dos ventos. ventos da vontade humana. Aquele zum zum zum do eu posso, eu quero, eu faço. Aquele vento passado pelos orifícios do tijolo (uma das fotos. Fascinante!).
Em Atrás do meu sorriso, os versos iniciais e os finais, respectivamente, os quais necessariamente devem ser refletidos, ouvidos e lidos ao mesmo tempo, estão assim compostos:
O show continua. Vamos ao clipe da música e a letra, na íntegra, da bela, mas severa, Copacabana.
Apressados correm na multidão
Que Guardavento possa proporcionar aos seus ouvintes, seus fãs tantas outras poesias. É a beleza das palavras – sejam imaginadas ou pronunciadas – arejando o nosso interior poético e cheio de musicalidade. Para vocês conhecerem a banda, basta segui-los no Instagram (@guardavento) e, ainda, ter acesso as poéticas e belíssimas músicas da Guardarvento no Youtube e Spotify.
Fontes
Não conhecia a banda, tem letras bonitas e um bom som 👏👏👏
CurtirCurtir
Banda jovem e estilo musical agradável. Sucesso. Algumas com toque romântico.
CurtirCurtir