A implosão da mentira – Fragmento 1
Mentiram-me. Mentiram-me ontem
e hoje mentem novamente. Mentem
de corpo e alma, completamente.
E mentem de maneira tão pungente
que acho que mentem sinceramente.
Mentem, sobretudo, impune/mente
Não mentem tristes. Alegremente
mentem. Mentem tão racional/mente
que acham que mentindo história afora
vão enganar a morte eterna/mente.
Mentem. Mentem e calam. Mas suas frases
falam. E desfilam de tal modo nuas
que mesmo um cego pode ver
a verdade em trapos pelas ruas.
Sei que a verdade é difícil
e para alguns é cara e escura.
Mas não se chega à verdade
pela mentira, nem à democracia
pela ditadura.
Hoje, resolvi inverter a ordem: primeiro o fragmento poético, depois o porquê dele no contexto do comentário. O certo é que tudo aconteceu nos anos 80 do século passado. O cantor Raul Seixas (1945-1989) iniciava aqueles anos cantando assim: “Hey! Anos 80!/ Charrete que perdeu o condutor/ Hey! Anos 80!/ Melancolia e promessas de amor…”. O escritor Millôr Fernandes (1923-2012), publica o livro: “Que País É Esse? “, o qual traz na capa o mapa político-administrativo do Brasil com as regiões trocadas. Em 1987, a irreverente banda Legião Urbana, lança o álbum “Que País É Esse? “. A canção título continua atualíssima até hoje; é a cara daquela parte do Brasil que insiste em contrariar tudo (e todos) para permanecer medíocre.
Porém, o título acima, extrai do livro: “Que país é este? “, lançado em 1980, pelo poeta
escritor mineiro Affonso Romano de Sant’ana. Nascido em Belo Horizonte em 1937 (hoje com 78 anos de idade), é um dos grandes nomes da nossa literatura nacional, cuja carreira teve início nos anos 50 do século XX, e com mais de 40 livros publicados tem solidez literária para retratar o país em sua arte.
escritor mineiro Affonso Romano de Sant’ana. Nascido em Belo Horizonte em 1937 (hoje com 78 anos de idade), é um dos grandes nomes da nossa literatura nacional, cuja carreira teve início nos anos 50 do século XX, e com mais de 40 livros publicados tem solidez literária para retratar o país em sua arte.
Segundo Arnaldo Nogueira Jr. (www.releituras.com), Romano é ”um caso raro de artista e intelectual que une a palavra e a ação, com uma produção diversificada e consistente”.
Em 1980, publicou num jornal de grande circulação nacional o poema “A Implosão Da Mentira“, o qual foi publicado em livro em l98l. Naquele ano o Brasil vivia a segunda década do regime militar, e os graves problemas políticos e sociais de então, são hoje, pequenas gotas d’agua ante o quadro nacional, 35 anos depois.
O poema A Implosão da Mentira está dividido em 5 partes, ou seja, 5 fragmentos como quis o autor. Cada uma das partes mais impiedosa que a outra no que tange a banda podre da política (e dos políticos) brasileiros.
O próprio poeta diz que até hoje as pessoas solicitam-lhe cópia do poema, por entenderem que a obra continua cada vez mais atualizada. É a mentira implodindo tudo, em todas as camadas da sociedade brasileira.
O jurista Luiz Flávio Gomes, na crônica ‘Não tenho conta no exterior’ , publicada no jornal Amazonas Em Tempo, edição de 20.10.2015, ao fazer uma avaliação do tenebroso quadro negro da politicagem nacional, que grassa do Planalto Central, para o mais distante vilarejo do Oiapoque,
cita Robert Trivers, que disse: ”Mentimos para nós mesmos para mentir melhor para as demais pessoas“. Está dado o recado.
Assim, explico o porquê do Fragmento 1 acima grafado, e sobre o qual, oportunamente, cabe uma reflexão. Ou banimos a mentira ou, em breve, ela será uma entidade legítima entre a “Pátria Amada”.
Ótima reflexão. Adorei a articulação que você fez. Beijos, pai
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