Na capa estão o sedutor poetinha e a bela intérprete (imagem ao lado). Na contracapa está o seguinte comentário de Ruy Castro:
– “O livro não mostra o que você é. Eu tinha impressão de estar lendo sobre uma outra pessoa.Uma moça boboca, moralista, cheia de preconceitos, queixosa e vingativa”, conclui o crítico.
– Quero editar já. Vou mandar fazer um copy-desk mínimo, só para reparo gramatical. Quero manter tudo da forma que você transmite”. Resultado: em 1975, foi publicada a primeira edição; em 1976, a segunda.
São do próprio Énio, nas “orelhas”da segunda edição, as seguintes considerações, sob o título: A LONGA VIAGEM DA NOITE PARA O DIA:
“É difícil precisar qual o motivo exato que leva uma pessoa a escrever – e publicar uma autobiografia: desejo de comunicação passiva, em que as palavras se espalham sem eco nem resposta? Generosidade na comunicação de experiência vivida, esperando que ela passa ter utilidade para terceiros? Escrever de si para si mesma?
Talvez seja possível dizer-se que um pouco de cada desses motivos forme a essência dos confessionários, das “revoluções”. Poucas pessoas, contudo, têm coragem de se expor com total honestidade e candura, de sorte que as autobiografias passam a ter caráter frequentemente ficcional, o autor dando aos episódios em que se envolveu e às personagens que o cercaram, em bom ou mau relacionamento, uma orquestração a seu gosto.
EU NUA, de Odete Lara, é raro exemplo do uso de completa franqueza em termos de revelação de si própria. Ao fim de sete anos de psicanálise – “o tempo necessário para demolir, até o ultimo tijolo, a antiga construção do meu ser e reconstruir, pedra por pedra, o novo edifício de mim mesma” – teve a coragem de se expor totalmente, sem peias ou injunções. “só por ter me reconcebido dentro do ventre de minha própria verdade”.
Em linguagem que é simples e chocantemente direta até mesmo quando se permite certos rebuscamentos (ao lhe sugerirem que desse melhor forma literária ao texto, que procurasse um ghost writer para isso, respondeu com a mais encantadora sinceridade: “Como vou recorrer a outro fantasma, se foi justamente o meu que me obrigou a escrever?”). Odete Lara nos conta tudo dessa acidentada viagem existencial até o encontro de si própria que hesitou bastante antes de se decidir a publicar sua história: “… escrever foi uma necessidade. E publicar? De que vale dissecar minha vida e expô-la aos outros?”
Acabou por se convencer de que valia a pela fazê-lo. Artista famosa de cinema e de televisão, imagem conhecida, cobiçada, invejada por milhões de homens e mulheres anônimos, seu livro poderia prestar bom serviço “a alguma pessoa que se veja enredada nos mesmos problemas que eu, ajudando-a a ver que não está só, e o quanto custa furar o cerco de aço que a sociedade nos arma antes mesmo de termos nascidos”.
EU NUA alcança plenamente tal objetivo. |Com dura franqueza, sem qualquer pena de si própria, mas com grande dose de compreensão das limitações humanas – suas e alheias -, Odete Lara nos enreda na saga apaixonante de uma bela mulher que se desnuda dos artifícios, conveniências e segredos, depois de sofrida infância, de perigosa exploração (passiva e ativa) de seus encantos físicos no esplendor da juventude, e do doce perfume do sucesso profissional, para revelar-se em plenitude como pessoa. O processo lhe custou muito, em termos emocionais (“Tive que sofrer de novo, com a mesma intensidade, todas as emoções que tinha vivido”), mas essa espécie de cartase a que se entregou tocará e inspirará a todos os que a puderem ler.
Sendo um livro em que demonstra amar aos outros como a si mesma, EU NUA não se alimenta de ódio ou vingança com pessoas vivas ou mortas… não é mera coincidência. Se omito seus verdadeiros fatos, é porque o respeito que tenho pelo próximo me impede de expô-las arbitrariamente ao conhecimento do público da mesma maneira que exponho a mim mesma”.
Dessa forma encerra Énio. Se o seu resumo é brilhante, chocante, emocionante, o livro então, com 247 páginas é muito mais ainda. Na contracapa, a própria editora dita o tom da obra:
“Esse título aparentemente gratuito e insólito constitui como que uma síntese deste livro corajoso e honesto em que Odete Lara nos relata sua acidentada viagem existencial até o encontro de si própria.
De fato, ela nos permitirá acompanhar sua saga desde as origens modestas, o trauma da orfandade materna ainda na infância, a revelação de seu extraordinária ria beleza física – perigosa arma de dois gumes – e o sucesso como estrela de cinema e televisão, até o momento em que, amadurecendo na plenitude de seus valores e propósitos como pessoa, ela finalmente se desnuda para si mesma, ser artifícios nem segredos.
EU NUA é um livro apaixonante e revelador, que tocará fundamente a todos os que o lerem”. cuja capa traz uma foto de Afonso Beato e Euclides Marinho, numa montagem de Euclides marinho, com um olhar austero da atriz e o busto complemente despido – artisticamente falando.
É realmente um livro interessante e, de necessária leitura para quem pretende se despir para si mesmo (a) sobre aquilo que acumulou ao longo dos anos sem serventia alguma. Reconstruindo assim, um um novo edifício da vida e seguir vivendo novas verdades.
Fontes
1. CD Vinicius de Moraes por Odete Lara, coleção “Poesia Falada”, vol. 5, Luz da Cidade Produções Fonográficas, p. 1998.
2. Lara, Odete. Eu Nua. Civilização Brasileira, 2ª ed. Rio de Janeiro, 1976